sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sem Arte na Alma



"A vida às vezes parece um convite a eternas vernissages

Cada uma nos atraindo com suas diferentes e nem sempre autênticas obras

Algumas podem ser inteligentes, glamourosas, filosóficas

Talvez com um toque vintage, moderno, contemporâneo

Outras, quem sabe, enfadonhas, pedantes, sem-noção

A escolha de qual visitá-las é nossa

Às vezes acertamos, às vezes não

Depende da visão que emprestamos para tudo

Eu gostaria de me surpreender um pouco mais na galeria de humanos

Ver mais pessoas pularem do imaginário para o real

E não o contrário, como é o que acontece na maioria das vezes

Cansada de esbarrar com quem desistiu da realidade para se disfarçar de figuras abstratas

Parecem tintas coladas em telas que não lhes pertencem

São como fôrmas de esculturas pretensiosas, mas que não passam de réplicas

Criam uma imagem de perfeição e superioridade para exibirem aos outros

No fundo não convencem nem a elas próprias

Que dirá a um merchant

E, sem perceber, tornam-se aberrações delas mesmas

Não, não quero mais assistir a esse tipo de exposição pseudo artística

Dispenso essas pinturas borradas, esculturas deformadas, instalações desinstaladas

Artistas frustrados, pessoas com discursos artísticos mas sem arte na alma"


By Elena Corrêa

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pronta Para Voar



“Por um momento
Fechei os olhos
E tive a sensação de estar diante de um precipício
 
Senti medo

Ao mesmo tempo, um ímpeto de saltar
Aquele que seria meu maior mergulho estava ali
Diante de mim
 

Mas também veio uma impressão estranha
A de achar tudo raso
Tudo incerto

Precisava decidir
Confiar na minha escolha
Não havia por que ter medo
 
A coragem não me deixaria falhar
Em todos os momentos em que precisei dela
Nunca me faltou

Foi ela que me moveu
Sempre me impulsionou
Até mesmo diante de abismos
 
Graças a ela, estive sempre pronta 
Pronta para voar
E, mais uma vez, eu vou voar...”


By Elena Corrêa


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A Soberba


“Cansado de ser perseguido por tudo
Tanto pelo que fazia de certo quanto pelo que fazia de errado
Reuniu forças e deu um basta

Não, ele não era perfeito
Tinha consciência de suas falhas e de seus acertos
Suas qualidades e seus defeitos
Talvez por isso não se ajustasse em certos meios
Meios em que a soberba é o molde que produz muitos iguais
Todos movidos pela mesma ambição desenfreada de atingir o topo

Topo de quê?
Talvez nem eles saibam, querem apenas estar acima de tudo e de todos
O tudo deles é tão vazio
O todo deles é tão solitário
Cospem para cima
E, nas trevas, sobrevivem como vampiros
Engolindo o próprio escarro”


Foto: Reprodução da obra do escultor  Cesare Zocchi
By Elena Corrêa
 

domingo, 9 de outubro de 2011

Autopunição


“Tem horas que bate uma saudade
de quem eu fui e deixei de ser,
por livre arbítrio
De quem gostaria de ter sido e abortei o plano, 
por imposta pressão

Pode parecer uma saudade boba, injustificável
Mas tem horas que ela bate
E acabo deixando entrar

Tem horas que dá uma vontade de chorar
Não por tristeza ou dor
É só uma sensação de que o reservatório de lágrimas atingiu seu limite
Elas estão prestes a transbordar
Elas precisam sair
E eu deixo que saiam

Pode parecer um pranto tolo e inútil
Mas serve para lavar os olhos, lustrar a íris
E, quem sabe, deixar mais clara a visão de tudo

Tem horas que gostaria de voltar no tempo
Para ajustar situações, aparar arestas de relações
Um desejo bobo e solitário de reconciliação que me leva a uma autopunição
Como se tivesse eu sido a única responsável de todas as ações

Nessas horas, o melhor é fechar a porta e deixar a vontade passar
É preciso pensar bem antes de buscar algo ou alguém do passado
Porque esse algo ou esse alguém poderá novamente querer destruir meu presente
E, mais uma vez, ameaçar obstruir meu futuro”


By Elena Corrêa